sexta-feira, 6 de maio de 2011

Desvario

Bateu na mesma tecla repetidas vezes. O piano que ganhara quando ainda tinha 6 anos estava gasto, mas ainda soava como novo.
Passara as últimas horas, os últimos dias e meses sentada ali, apenas tocando, sentindo.
Precisava incorporar, a música ia de tons mais leves e delicados aos mais ousados e violentos. Queria sentir e interpretar como nunca houvera feito...
Passados alguns dias, lá estava, sentada diante do longo e reluzente piano, diante de milhares de pessoas. O tão esperado momento, seu momento.
Tocou uma adaptação de Tchaikovsky, seus dedos percorriam o teclado com leveza e os pés pressionavam o pedal com certa agressividade. A música saiu no tom esperado, ela estava realizada e não conseguia se conter.
Ao fim, levantou-se e foi agradecer a platéia que aplaudia ferozmente. Deixou o palco.
Seu objetivo fora alcançado, então por que continuava a ouvir aquelas vozes? Por que na sua cabeça ecoavam sentenças de desaprovação? Como se todo o seu esforço não fora válido, como se ainda era preciso mais?
Parecia não ter fim, e quem sabe não tinha mesmo.