domingo, 20 de março de 2011

A permuta.

Observei durante anos uma adorável moça que sempre ia ao cemitério aos domingos e passava horas conversando com certo túmulo. Despertou-me grande curiosidade, e certo dia resolvi ir lá, apenas ver se estava bem.
Conversamos durante horas e ela contou-me que o túmulo era de sua irmã. Uma história extraordinária. Eram gêmeas siamesas e durante quinze anos viveram grudados uma á outra pelo abdômen.
A rotina já era costumeira, não ligavam muito por estarem grudadas, bom, pelo menos até a sua adolescência. Logo, a moça começou a se interessar por um rapaz e quis privacidade. Pesquisou durante um longo tempo sobre a cirurgia de separação. Descobriu que era possível e sem muitos danos. Passou meses tentando convencer a irmã, que de maneira alguma queria a separação, temia a morte, pois sempre foi a mais frágil e contraia doenças facilmente, o medo de morrer era iminente e ela se recusava a fazer a cirurgia. Mas seu amor pela irmã e vendo-a querendo levar a vida adiante, uma vida só dela, a fez aceitar a cirurgia.
Pediram de aniversário e assim foi feito. A moça contou-me que acordou em uma cama de solteiro, na qual sua irmã não estava. A alegria tomou conta dela por vários minutos pensando no que ia fazer daquele momento em diante, até que lembrou de sua irmã, queria saber se ela também estava se sentindo feliz. A mãe apenas chorou e a abraçou contando que a irmã não tinha resistido à cirurgia e falecido.
Desde então fazia visitas freqüentes ao túmulo para contar a irmã tudo que havia conquistado e tentar amenizar o seu sentimento de culpa.
Deixei-a lá, conversando com o túmulo e voltei ao trabalho...
- Olha querida irmã, um homem interessado em nossa extraordinária história, aposto que ele adoraria conhecê-la e ver o quanto é maravilhosa.
A falta que minha irmã me faz é imensa, não pensei nela, em seus problemas de saúde, apenas em mim mesma, sua morte é culpa do meu egoísmo.
De repente o céu inteiro se fechou, uma chuva torrencial começou a cair, não pensei em me retirar, queria apenas ficar ali por mais alguns intantes, até que um raio me atingiu.
Minutos depois, meu corpo se levantou, olhei para o túmulo, o lugar que passei muitos anos da minha jovem vida, sorri malignamente:
- É querida irmã, agora é a minha vez de viver.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Imensidão.

"Porque eu sou do tamanho daquilo que sinto, que vejo e que faço, não do tamanho que as pessoas me enxergam." Carlos Drummond de Andrade

Não consigo explicar a imensidão dessas palavras. Você, leitor, pode não achar, mas pra mim, significam mais do que apenas palavras, uma lição de vida.
Aquela mania insistente de se redimir ao que os outros pensam e falam de você.
Suas ações vão mudando, seu eu se reprime, sua personalidade se perde e acaba se tornando o que a sociedade quer.
Já passei por isso e tenho certeza que muitos já passaram. Falar e agir da maneira que a sociedade dita.
Com o tempo, percebi que era mais que isso, não precisava seguir tais ditaduras, que vão desde as coisas mais superficiais até as mais profundas.
Não preciso me encaixar na sociedade, preciso mesmo é ser o que quero ser. Agir da maneira que quero agir e buscar os meus sonhos.
É baseado nisso que eu busco a minha felicidade, vou atrás do que acredito e do que sonho, por que afinal, meu tamanho é só uma mera demonstração do que eu sou. O que sou de verdade é mil vezes maior, e não preciso provar isso a ninguém, só pra mim mesma.